A DIDÁTICA ANDRAGÓGICA DE JESUS
A DIDÁTICA ANDRAGÓGICA DE JESUS
“Aplica
o coração ao ensino e os ouvidos às palavras do conhecimento” (Provérbios
23.12)
RESUMO
Neste
artigo o autor, procura mostrar a importância do método de ensino teológico usado
por Jesus. Ele escolheu homens adultos nos diferentes seguimentos daquela
sociedade, assim ele usou a andragogia[1]. Durante
os três anos ele aplicou uma perfeita didática para o sucesso na formação dos
discípulos. A principal missão de Jesus foi entregar sua vida como sacrifício pelos
pecados. A missão dos doze discípulos escolhidos – espalhar o Evangelho a todas
as nações. Homens simples, alguns até de duvidoso caráter dentro da sociedade. A
maioria, pescadores, outros, como cobradores de impostos, odiados pelos
próprios patrícios. Jesus, com base em sua formação judaica, usou em suas
preleções expositivas para o ensino do Evangelho. O uso dos mandamentos bíblicos
foi importante para seu ensino, pois era cotidiano de seus ouvintes. Ele usou parábolas,
método eficaz no contexto judaico. Tanto seus discípulos quanto seus inimigos, ficavam
admirados, pois os ensinava com autoridade e humildade.
PALAVRAS-CHAVE
Andragogia;
Ensino; Jesus; Parábolas.
INTRODUÇÃO
O
ser humano é munido de intelecto que favorece um constante aprendizado, desde
seu nascimento ao longo de sua vida e até sua morte, ele não cessa de aprender.
Há diferentes métodos de aprendizados para diversas faixas etárias. A criança
começa a aprender por imitação, observando seus pais, desenvolvendo a fala e
naturalmente usando seus membros superiores e inferiores para pegar e andar
respectivamente. O desenvolvimento da comunicação começa com sua necessidade da
alimentação onde seu primeiro sinal de expressar que está na hora de comer algo
é através do choro. Quando todos esses processos primários e naturais estão
basicamente desenvolvidos, começam a surgir maior atenção e orientação da parte
dos pais e dos educadores para formação daquele indivíduo para a sociedade. Dependendo
da forma e do conteúdo de aprendizado somados ao contexto social em que vive e ao
que recebe durante suas duas primeiras décadas de vida, resultará em uma pessoa
bem sucedida ou mal sucedida.
O
povo judeu, no Antigo Testamento e no início do Novo testamento foi orientado
na formação de sua vida pelos princípios teológicos do Deus de Israel. A base
do ensino judaico acerca das leis que regiam esse povo, eram amplamente e
rigorosamente inseridas, em suas mentes desde sua infância (Deuteronômios
6.4-9), através do judaísmo que por sua vez serviu como base da formação do
cristianismo.
Diante
disso, queremos observar alguns aspectos e o propósito da educação teológica
através do método usado pelo Senhor Jesus na formação dos doze discípulos,
considerando um dos propósitos: a Grande Missão. Assim teremos uma visão clara
da eficácia dos métodos de ensino empregados pelo Senhor Jesus Cristo.
Pode-se
observar que este estudo mostra três pontos principais que serviram como base
para o ensino de Jesus e assim entendermos porque ele foi bem sucedido. Os
pontos são: os mandamentos do Antigo Testamento, as parábolas como recurso
didático para embasar os ensinos e as boas novas que é o Evangelho que interage
com seu próprio testemunho e o propósito de vida do próprio professor, Jesus.
I.
O
USO DOS MANDAMENTOS DO ANTIGO TESTAMENTO
Jesus
sendo judeu tinha como base, de seus estudos teológicos, o judaísmo que
influenciava no âmbito tanto religioso quanto cultural e social de um povo
escolhido e separado por Deus. Os judeus tinham a preocupação de inserir sua
religião como formação de sua sociedade regida pelo Deus de Israel. Desde
Abraão, seu patriarca, o povo de Israel recebeu os ensinos pela tradição
passando de pai para filho, que passaram a serem os preceitos morais e
cerimoniais.
Todos
os ensinos da tradição foram compilados a partir dos cinco primeiros livros das
Escrituras, chamado “Pentateuco”, fazendo parte inicial da Bíblia do Antigo
Testamento que foram escritos por Moisés, mas “inspirado por Deus” (2 Timóteo
3.16). Portanto, o povo com os ensinamentos de Deus em mãos foram passando para
novas gerações através da didática da repetição, decoração de versículos,
leitura pública da Palavra, preleções e exortações de profetas, juízes,
sacerdotes e reis. Eles contavam as histórias do seu povo, e o próprio Deus
interagia com eles, os ensinando e os inspirando a escreverem os registros
bíblicos, completando assim o Antigo Testamento.
Os
livros do Antigo Testamento se transformaram em um manual de ensino ao povo de
Israel, com leis morais, leis cerimoniais, que orientavam todos a adorarem e a obedecerem
ao único Deus (Monoteísmo). Uma grande nação que fora perseguida e dispersa.
O
Antigo Testamento começa mostrando a criação e o princípio da humanidade na
terra. Ele dá respostas claras do princípio de tudo e do poder do Criador,
mostra também a condição do homem destituído de Deus por causa do pecado da
desobediência, um Deus misericordioso que levanta uma nação separada das outras
para voltarem a adorar um Deus único. Finalmente mostra uma promessa para
remissão do pecado da humanidade vinda através dos próprios judeus.
Jesus
aparece nos tempos do Novo Testamento, trazendo boas – novas para um povo perdido, o Evangelho. Jesus
começa seu ministério escolhendo dentre a multidão de pessoas que estão lhe
seguindo, doze homens, que serão preparados para uma grande missão. Durante
aproximadamente três anos, Jesus ensina estes homens e dá inicio a maior
mudança que humanidade pode ter durante toda sua existência.
Os
judeus, doutores da Lei, os fariseus, os escribas começaram a observar uma
mudança muito grande, que nunca houve antes. E testaram Jesus procurando algo
em que o condenasse. Mas ele ensinava como quem tinha autoridade (Marcos 1.22)
e humildade. Tudo o que ele aprendeu no judaísmo serviu como base para seu novo
ensinamento acerca do Evangelho. Ele preparou seus apóstolos para serem
enviados para espalhar seus ensinos a toda as nações. Nota que Jesus escolheu
pessoas de diversos segmentos na sociedade, pescadores, coletores de impostos e
outros. Ele não escolheu crianças que pudesse começar do zero formando o
caráter de cada uma delas, mas iniciou com adultos, com caráter já formado e
pressupostos de suas experiências de vida, assim ele não usou a pedagogia para ensiná-los,
mas usou a andragogia.
Segundo Antônio Carlos Gil (2007, p.12) o
termo “Andragogia é usado para referir-se à arte e a ciência de orientar os
adultos a aprender”.
A Andragogia “fundamenta-se nos seguintes
princípios: No conceito de aprendente; necessidade do conhecimento; motivação
para aprender; o papel da experiência e prontidão para o aprendizado” (Gil,
2007, p. 12, 13).
A
Andragogia usada por Jesus como didática possibilitava um aprendizado mais
eficaz devido haver “variáveis comuns aos alunos” (os discípulos), “ao
professor” (Jesus) e ao “curso”(o Evangelho com base do Judaísmo) (Gil, 2007,
p. 13-16).
II.
O
USO DAS PARÁBOLAS
Jesus usou as
parábolas como um recurso didático para passar aos seus discípulos aquilo que
ele queria que eles aprendessem.
Parábolas era um
costume didático do judaísmo, também usado nos tempos do Antigo Testamento.
O que realmente
significa a parábola? Para entendermos um pouco sobre o significado da
parábola, o intérprete de parábolas do século XX, Jeremias (apud KENNETH BAILEY[2],
1995, p.12,13) observou:
Esta palavra (parábola)
pode significar, na linguagem comum do judaísmo pós-bíblico, sem que recorra a
uma classificação formal, formas figurativas de linguagem de todos os tipos:
parábola, símile, alegoria, fábula, provérbio, revelação apocalíptica, enigma,
símbolo, pseudônimo, pessoa fictícia, exemplo, tema, argumento, apologia,
refutação, anedota.
Jesus usou
muitas parábolas. No Evangelho de Lucas onde elas são mais citadas, podemos
observar uma delas como exemplo, a mais conhecida, a “Parábola do Semeador”, em
seu comentário, (WIERSBE, 2009, p.258) faz uma introdução, ele escreveu:
Um dos temas centrais
de Lucas 8 é como desenvolver a fé e usá-la nas experiências diárias da vida.
Na primeira seção, Jesus apresentou os fundamentos, ensinando a seus discípulos
que a fé vem por receber a Palavra de Deus em um coração compreensivo. Na
segunda parte, os fez passar por várias “avaliações” para ver quanto haviam
aprendido de fato. A maioria de nós gostaria de escapar das avaliações, às
quais, muitas vezes, somos submetidos depois das lições! No entanto, é nas
provas da vida que a fé se desenvolve e que nos aproximamos de Cristo.
III.
O
USO DAS BOAS-NOVAS
Ao estudarmos o
evangelho de Jesus, nossa preocupação principal não pode ser com sistemas
acadêmicos de teologia, nem com opiniões específicas de certos teólogos acerca
de uma determinada doutrina. (MacArthur, 2008, p. 28).
Jesus ensinava
para as multidões (Sermão do Monte), ensinava para seus apóstolos, e ensinava
para indivíduos exclusivamente.
Uma das
passagens mais marcantes e fundamentais de todo o Evangelho e porque não dizer
de todas as Escrituras, tanto do Antigo Testamento como do Novo Testamento é o
versículo que é conhecido em todo o mundo e que resume todo o plano de Deus
para a humanidade. Ele está no Evangelho de João no capítulo 3 no verso 16 que
diz: “Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna”. Esta passagem se originou de um diálogo de Jesus
com um doutor da Lei, o fariseu chamado Nicodemos. Jesus está ministrando um ensinamento
profundo para um homem inteligente diante daquela sociedade Judaica. Nicodemos
tinha uma posição honrada, segundo alguns comentaristas, ele temia ser visto em
público com Jesus, então, ele foi à noite falar com Jesus para tirar algumas duvidas de
seus ensinos.
Segundo MacArthur
(2008, p. 46) sobre o encontro de Jesus com Nicodemos, ele diz:
Trata-se do primeiro encontro
evangelístico pessoal de Jesus registrado nos evangelhos. Ironicamente Jesus,
que tanto confrontou a falta de fé dos fariseus e seu antagonismo cabal, iniciou
o seu ministério evangelístico atendendo a um líder fariseu que O procurou com
uma declaração solene e entusiasmada. Poderíamos esperar que Jesus recebesse
Nicodemos calorosamente e interpretasse a sua atitude positiva como uma
profissão de fé, mas esse não foi o caso. Longe de encorajar Nicodemos, o
Senhor Jesus, que conhecia a incredulidade e a auto-justiça existente no
coração dele, tratou-o como incrédulo.
Jesus
ensina Nicodemos que apesar de sua posição ele precisava nascer de novo. A
expressão “nascer de novo” ficou marcada pelos cristãos como o marco da
reconciliação do homem para com Deus. A analogia foi clara, Jesus mostra a ação
da Criação mais sublime que Deus proporcionou ao homem de gerar sua própria
espécie agora ele diz ao homem que ele tem que nascer de novo, mas do Espírito.
A didática Andragógica torna-se explicita pela própria experiência do homem em
gerar uma nova vida. Portanto, fica claro que seu novo nascimento que também é
a renovação sua vida voltada aos conceitos fundamentais do cristianismo.
CONCLUSÃO
Conclui-se que os ensinos de Jesus
transformaram o mundo que conhecemos e proporcionou uma visão clara e correta
de quem somos, como vivemos e como devemos viver. Jesus não somente fez
escolhas certas, também foi bem sucedido em seu propósito. Mesmo como homem em
suas limitações ele provou que a humanidade é a criação mais sublime de Deus, e
que toda a história gira em torno de Jesus Cristo proporcionando ao homem a
solução para suas indagações inconclusas por si só. Vivendo como homem, Jesus
interagiu com sua criação e deu oportunidade de uma abertura grandiosa de
conhecimento que o homem jamais conseguiria enxergar. Ele mostrou que o ensino
bem estruturado com amor e métodos que envolvem os indivíduos em seu cotidiano
mesmo imperfeito, pode lhes proporcionar uma consciência limpa para ter como
base o próprio Criador para sua reconstrução como um indivíduo se tornando e se
posicionando como o Filho do Deus vivo.
ABSTRACT
In this article, the author tries to show the importance of theological
teaching method used by Jesus. He chose adult men in different segments of that
society, so he used andragogy. During the three years, he applied a didactic
perfect for success in the training of disciples. The primary mission of Jesus
was giving his life as a sacrifice for sins. The mission of the twelve
disciples chosen - spread the Gospel to all nations. Simple men, some even of
doubtful character within society. Most, fishermen, others, such as tax
collectors, hated by their own compatriots. Jesus, based on his Jewish
background, used in his expository lectures for the teaching of the Gospel. The
use of biblical commandments was important in his teaching, for he was daily
lives of his listeners. He used parables, effective method in the Jewish
context. So much his disciples as his enemies were amazed, because he taught
them with authority and humility.
KEYWORDS
REFERÊNCIAS
BAILEY, Kenneth E. As Parábolas de Lucas. Tradução de Adiel
Almeida de Oliveira. 3. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.
GIL, Antônio Carlos, Didática do ensino superior. São Paulo:
Atlas, 2007.
MACARTHUR JR, John F. O Evangelho Segundo Jesus. 2. Ed. São
José dos Campos: Editora Fiel, 2008.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo – Antigo
Testamento – volume 1 – Pentateuco. Tradução de Susana E. Klassen. Santo
André: Geográfica editora, 2009.
*O autor é
batista da Igreja Batista Regular de Mangabeira (IBRM), Pastor da IBRM,
professor do Esdras – Instituto Teológico Bíblico. Está fazendo Mestrado em
Exposição Bíblica pelo Seminário Batista Logos de São Paulo e radialista da Kadoshi Web Rádio. Graduado em Teologia Exegética pelo Seminário Batista do
Cariri – CE (SBC), e graduado em Economia pela Universidade Regional do Cariri
(URCA), também é pós-graduado em Administração pela Faculdade Leão Sampaio.
[1]Andragogia
é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender, segundo a definição
creditada a Malcolm Knowles, na década de 1970. O termo remete a um conceito de
educação voltada para o adulto, em contraposição à pedagogia, que se refere à
educação de crianças (do grego paidós,
criança).
[2]
Dr. Kenneth Bailey viveu por 47 anos no Oriente Médio onde, como estudioso da
área do Novo Testamento, foi professor em várias instituições de ensino, entre
elas o Tantur Ecumenical Istitute for
Theological Research, em Jerusalém.
Comentários
Estou a tentar visitar todos os seguidores do Peregrino E Servo, pois por uma acção do google meu perfil sumiu e estava a seguir o seu blog sem foto e agora tive de voltar a seguir, com outra foto. Aproveito para deixar um fraterno abraço e muita paz e saúde.
António Jesus Batalha.